15/09/2012 06h41
- Atualizado em
15/09/2012 06h54
Política visa democratizar acesso a orgânicos e aumentar sua produção
Isentos de resíduos químicos prejudiciais à saúde humana e animal, alimentos são mais seguros, não contaminam o meio ambiente e duram
Alimentos orgânicos (Foto: Divulgação / Brasilbio)
Por pura falta de informação, muitos confundem o alimento orgânico com o
natural, o hidropônico e até o transgênico. Mas os conceitos são
totalmente diferentes e a Associação Brasileira de Orgânicos (Brasilbio)
vem lutando desde 2004 para divulgar a importância para o país da
produção orgânica, que cresce vertiginosamente principalmente na Europa e
nos Estados Unidos. No mundo todo, os orgânicos geram em torno de R$ 95
bilhões por ano com seus 60 milhões de hectares de terras próprias para
esse tipo de cultivo.“O cenário brasileiro tem crescimento de aproximadamente 20% ao ano, mas o mercado ainda é tímido e pouco estruturado, gerando em torno de R$ 14 milhões. Temos 809 mil hectares representando apenas 0,3% de toda área, com 90 mil produtores cadastrados, segundo o Censo 2006. Apenas 10% desses produtores são certificados pelo Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento”, explica Lutero Couto, vice-presidente da Brasilbio. "O que nossa associação propõe é a democratização do consumo de orgânicos, ou seja, de alimentos saudáveis, e isso implica em produção em escala e a preços civilizados.”
A agricultura orgânica costuma ser relacionada a produções em pequena escala. Mas desde dezembro de 2003, os produtores vêm se adequando e adaptando às regras impostas pela Lei nº. 10.831, que em seu artigo 1º sacramentou “o sistema orgânico de produção agropecuária é todo aquele em que se adotam técnicas específicas, mediante a otimização do uso dos recursos naturais e socioeconômicos disponíveis e o respeito à integridade cultural das comunidades rurais”. Em agosto deste ano, o Diário Oficial da União publicou o decreto 7.794, que institui a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, assinado pela presidenta Dilma Rousseff. Os objetivos são integrar, articular e adequar políticas, programas e ações indutoras da transição agroecológica, da produção orgânica e de base agroecológica, contribuindo para o desenvolvimento sustentável e a qualidade de vida da população.
“A Lei de 2003 regulamentaria, mas faltava uma política do setor que olhe o orgânico não como nicho, mas como um dos eixos de desenvolvimento sustentável do país. A Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica define um marco regulatório. Até a edição deste decreto, o orgânico era voltado para a classe A e B e para a exportação. Um dos esforços hoje é para colocarmos o alimento orgânico nas escolas”, diz o vice-presidente da Brasilbio. “A legislação estimula o resgate de técnicas tradicionais de manejo de produção biologicamente sustentável, que foram extinguidas pelo manejo convencional que utiliza produtos químicos.”
Alimentos orgânicos (Foto: Divulgação / Brasilbio)
Desde a década de 1970, quando o processo orgânico começou a ser
difundido no meio acadêmico e científico, novas tecnologias foram
desenvolvidas e estudos realizados para evitar pragas e doenças sem a
utilização de agrotóxicos:“Uma planta nutricionalmente equilibrada fica resistente aos ataques de insetos e outros seres danosos. Para combater as pragas é preciso usar adubação orgânica com adubos minerais pouco solúveis, bem como micronutrientes. Desta forma, a planta recebe os nutrientes de maneira gradual e necessária. Na produção agroecológica, não eliminamos insetos predadores nem aranhas ou mesmo passarinhos. Eles são inimigos naturais das pragas de nossa lavoura”, comenta Lutero Couto.
Diferente da produção convencional, a produção de orgânicos não utiliza agrotóxicos, transgênicos, fertilizantes sintéticos. Além disso, não são processados com radiação ionizadora ou aditivos, seja na questão nutricional da planta ou no tratamento contra doenças e pragas. Esses alimentos são isentos de quaisquer resíduos de agroquímicos prejudiciais à saúde humana e animal, são mais seguros para o consumidor e não contaminam o meio ambiente. E, de acordo com Lutero Couto, os alimentos ainda podem ficar mais tempo na geladeira:
“Os alimentos orgânicos têm melhor valor nutricional porque são produzidos em solo mais equilibrado em nutrientes. São ricos em minerais e fitoquímicos. Eles têm menor toxicidade, pois possuem menos resíduos de agrotóxicos e fertilizantes sintéticos, de hormônios e drogas veterinários usadas na produção animal ou aditivos químicos, de vitaminas e minerais sintéticos e de substâncias radioativas resultantes do processamento dos alimentos. Os métodos de higienização e processamento buscam manter a qualidade nutricional, o sabor, o odor e a textura originais, além do aspecto natural do alimento. Por isso, os orgânicos são mais saborosos. E os alimentos orgânicos ainda duram mais, uma vez que a adubação sintética nitrogenada, proibida na agricultura orgânica, leva a um aumento no teor de água dos vegetais, tornando os alimentos mais perecíveis.”
fonte: Globo Ecologia